Que peça de vestuário nunca deveria ter sido inventada?
Reforçando a ideia de algumas das minhas antecessoras nesta rubrica, também eu sou da equipa anti-Crocs. Nunca vou entender o apelo de tal coisa, e nunca vão conseguir convencer-me com quaisquer que sejam os argumentos.
No entanto, não acho que estejam sozinhas no campo das atrocidades… Também acho que as calças Sarrouel são outro pequeno flagelo. Não ficam bem a rigorosamente ninguém (Aladino, inclusive) e nem sequer são assim tão práticas! Sinceramente, desde quando é que é favorecedor parecer que se anda com uma fralda tão cheia que nos chega até aos joelhos?!
E que peça de roupa, calçado ou acessório te dá um boost automático de confiança assim que o vestes/usas?
Mais do que qualquer outra coisa, um bom casaco dá-me boa parte do boost que eu preciso. Aliás, acho que até acabo por gostar um bocadinho menos do Verão por não conseguir usar tanto casacos… Um casaco bem estruturado (não gosto muito de casacos sem estrutura) faz maravilhas pela silhueta e compõe facilmente um look. Seja um bom blazer, um biker, um trench-coat… Adoro-os a todos. Avé ao Power Jacket!
Uma mulher portuguesa que admires pelo estilo?
Pelo estilo e pelo bom-gosto (que no fundo são coisas que estão ligadas) admiro a Raquel Prates. Tem uma pinta descomunal, consegue fazer escolhas mega arrojadas e estar sempre super cool e elegante em simultâneo. Não é algo fácil de se conseguir e também não é para todos os gostos, mas eu adoro.
E uma que seja para ti um exemplo de vida?
Não me identifico com a Cristina Ferreira, mas se há uma mulher portuguesa que tem um percurso de crescimento incrível é ela. Não conheço bem a sua história, sei apenas que não veio de berço de ouro e teve de batalhar bastante para ser hoje uma das mulheres mais poderosas de Portugal, com um império invejável. Obviamente que os impérios não se constroem à custa de nada, mas admiro sem dúvida a sua força, inteligência e determinação.
Se fosses um filtro do Instagram, qual serias e porquê?
Sinceramente, os filtros do Instagram não me satisfazem muito… Acabo por editar sempre as minhas fotos numa panóplia alternativa de outras aplicações, mas tendo de escolher, escolho o Juno porque embeleza as imagens puxando o melhor das mesmas, dando-lhes um contraste, saturação e brilho equilibrados, com subtileza. Se posso fazer um paralelismo, diria que é isso que eu procuro fazer tanto no meu trabalho, como na minha vida pessoal – gosto de olhar para o melhor da vida, de uma mensagem, de uma ideia, de uma pessoa, e deixar para trás aquilo que não acrescenta valor. Acho sempre que tudo pode ser melhorado, para tentar chegar (talvez um dia) à melhor versão (possível) do que somos e fazemos.
Que “imperfeição” física ou de feitio, nunca deixarias que te mudassem no Photoshop?
Depois de muitos anos com alguma vergonha, passei a abraçar a minha gargalhada como a minha imagem de marca. Nem toda a gente se sente confortável com o volume e estridência da coisa, mas já não me importo. É a minha energia, é positiva, e quem não se sentir confortável, terá de lidar com isso à sua maneira. A vida é demasiado curta para se ter vergonha de existir.
O que achas que todos podemos fazer para uma Indústria da Moda mais justa e sustentável?
Há tanta coisa que podemos fazer e há tanto que eu poderia dizer aqui…
Podemos começar por querer ter menos e querer ser mais: ter menos coisas, ser menos manipuláveis pelo Marketing, não depender tanto do efeito novidade para sermos felizes – a verdade é que por norma acabamos por usar as mesmas coisas e só desperdiçamos tempo, dinheiro e energia em ‘entulho’; e temos de passar a ser mais conscientes, mais curiosos, mais responsáveis pelas consequências das nossas escolhas, porque as há e não é porque as ignoramos que elas deixam de existir.
Na esfera da Moda, faz-me confusão este frenesim de perseguir dezenas e dezenas de tendências por ano. Por quê? Para quê? A roupa é importante sim, passa uma mensagem, mas temos de ser nós a usá-la e não a roupa a usar-nos a nós. Até porque este consumo desenfreado tem consequências gravíssimas, tanto sociais como ambientais.
Temos de abrir mais os olhos, usar a cabeça e fazer mais perguntas. Toda a gente gosta de uma boa pechincha, mas não é tão estranho que uma t-shirt nova, feita de algodão, tenha de passar por um processo tão longo – cultivo do algodão, colheita, filtragem, fiação, tecelagem, corte, confeção, embalagem, transporte e exposição – e no fim custe 2, 3 ou 5€?! Como é que é possível? Muitas vezes é possível à custa de condições laborais que nunca quereríamos para nós, por isso também não deveríamos apoiar as marcas que perpetuam estas condições para os outros, entre outras coisas.
Além disso, a indústria da Moda é uma das mais poluentes do mundo, sobretudo com a massificação dos tecidos sintéticos (vivemos no reino do Poliéster) muito por causa desta cultura do descartável, em que as coisas se usam uma ou duas vezes e se deitam fora (até porque também não têm qualidade para durar muito mais). Não podemos continuar a viver com esta ideia completamente descabida de que temos outro planeta para ir quando este estiver atolado com o nosso lixo. Não é justo, não é correto e é triste.
Convido toda a gente a ver o documentário The True Cost (entre outros) e a repensar as suas escolhas. É desconfortável, sim, mas temos de nos consciencializar de que temos muito mais poder do que pensamos para mudar o que há de errado no Mundo. E que também é nossa responsabilidade fazê-lo.
E há tantas outras maneiras de continuarmos a alimentar a fashionista que há em nós! Podemos comprar roupa em segunda-mão – boa parte do meu roupeiro veio de compras que fiz em Mercados e Private Sales da Dress for Success, até. Encontram-se sempre coisas fantásticas, a uma fração do preço, prolongando-se assim a vida útil das peças. Podemos fazer as nossas próprias roupas (para quem tem jeito para o assunto); podemos trocar com amigas, irmãs, primas, etc… ou mesmo em Swap Markets. Em alternativa, podemos optar por marcas que se rejam por valores de qualidade, ética, sustentabilidade e transparência. Já há, inclusivamente, muitas marcas portuguesas a dar boas cartas neste sentido, o que me deixa com muito orgulho.
Há muitas coisas que podemos realmente fazer, e grande parte delas são pequenas mudanças que, a longo prazo, fazem toda a diferença.
Que marca, produto ou objecto gostarias de ter sido tu a criar e porquê?
Não diria que há algo que gostaria de ter sido eu a inventar porque se assim fosse não poderia aprender com a experiência de quem o fez. Mas quero, sim, deixar a minha marca no mundo, e hei-de fazê-lo a seu tempo.
Mantendo-me na vertente da Moda, contudo, posso dizer que há duas marcas que eu admiro muito pelo poder disruptivo na sua génese – a Chanel e a Dior – sendo que uma acaba por ser a antítese da outra. Para mim, a mulher ideal, navega entre a irreverência transformadora de mentalidades de Gabrielle ‘Coco’ Chanel e o glamour, elegância e mestria de Monsieur Dior. São identidades tão vincadas, que deixaram um legado incrível, elevando a Moda à categoria de Arte e acho que é isso que me faz sonhar com ‘trapos’ e o que estes fazem por quem os usa desde pequena.
O que é que o PWG – Professional Women’s Group (Programa de Liderança Internacional da Dress for Success®), que terminou recentemente a sua 4ª edição, e no qual foste escolhida como líder emergente, para representar Lisboa no Success Sumitt de 2018, te ensinou sobre ti que não sabias?
Ensinou-me muitas coisas, primeiro porque nos leva numa jornada de auto-conhecimento muito esclarecedora – e que toda a gente deveria fazer; e segundo, ao abordarmos muitos temas, percebemos realmente quais são os nossos pontos fortes e quais aqueles em que devemos trabalhar para atingir os nossos objetivos.
Isto tudo quando se está inserida num grupo de mulheres fabulosas, que no final ainda me dão a honra de as representar, ensinou-me que eu tenho uma voz, e que não é porque não faço as coisas da mesma forma que outras pessoas que o meu método é menos válido para fazer bem ou fazer melhor. Só tenho de acreditar e avançar, porque realmente – e passando o cliché – não há nada que mate mais sonhos do que o medo de falhar.
Sobretudo com a ida aos EUA, e interagindo e ouvindo as experiências de mulheres em realidades tão diferentes da nossa, consolidei muito mais a ideia de que falhar faz parte do percurso como qualquer outra etapa. É como cair quando se aprende a andar de bicicleta. Toda a gente tem as suas inseguranças, limitações, problemas. E falar sobre todas estas coisas não é sinal de fraqueza, bem pelo contrário. Desde que não entremos no modo vítima, a vulnerabilidade é algo poderosíssimo para criar empatia com o outro. Nunca estamos sozinhos e às vezes temos muito mais sorte na vida do que imaginamos. Se não, o que não nos mata torna-nos mesmo mais fortes. E sábias!
E já que estamos a falar de liderança, com que Líder (no feminino) gostavas de passar uma tarde a conversar?
Sou super mega fã do casal Obama e acho a Michelle Obama uma mulher incrível. Tem um carisma que não fica rigorosamente nada aquém do marido, e aproveitou sempre o seu papel – que poderia ser meramente decorativo – para deixar também o seu legado, fazer a diferença, e trazer à conversa assuntos altamente relevantes, liderando pelo exemplo, com assertividade e confiança, mas também com sentido de humor e compaixão. Nunca descurou o seu papel de mãe e de esposa, mas também nunca se limitou a ser apenas isso. A Michelle conjuga uma série de características que para mim são notáveis e tenho imensa pena que a sua sucessora na Casa Branca seja tão a antítese do que a Michelle foi enquanto Primeira Dama. Passando-me os primeiros minutos de histeria interna por estar na sua presença, tenho a certeza que seria uma tarde de conversa memorável. Enquanto isso não acontece (fingers crossed para talvez um dia), aguardo com muita ansiedade a sua autobiografia que está prevista para o final deste ano.