a conversa

À Conversa com Mónica Oeiras

A valorização da imagem é importante para qualquer pessoa, independentemente do lugar que ocupam no espectro do tamanho de corpo. É preciso quebrar estereótipos e despir preconceitos.

A Dress For Success (DFS) está presente na primeira edição do evento Plus Fashion – nos dias 18 e 19 de Maio – a convite de Mónica Oeiras: a Directora de Produção deste evento, que quisemos conhecer melhor!

Em primeiro lugar, quem é a Mónica Oeiras?

A Monica Oerias é uma modelo plus size que se iniciou neste mundo através da fotografia. Em parceria com o meu companheiro, tínhamos uma empresa de fotografia desde 2015 e começámos a fazer eventos fotográficos, videoclips e sessões para catálogos plus size. Tudo em Portugal!

Percebemos que faltava acompanhamento para estas modelos e criámos uma agência plus size: a Curvy Models Management. Faz 2 anos em Maio e tivemos imensas inscrições. Muitas delas, pessoas que nos procuravam pela auto estima! Embora não fosse isso o que queríamos porque não somos psicólogos. O nosso foco é colocar mulheres bem preparadas no mercado. É difícil porque somos muito recentes. Mas há um grande progresso, ainda que lento!

Poucos designers querem apostar nesta área. Se compararmos Portugal com o Brasil e os Estados Unidos, estamos a anos luz! Mesmo no Reino Unido e França já há muito mais progresso: a La Redoute tem um foco plus size interessante, com designers próprios.

Existem homens com interesse na moda plus size?

Na nossa agência temos muito poucas inscrições: temos 2 modelos masculinos. Para o nosso evento, não houve uma única inscrição masculina.

Ainda há muito estigma que o homem nesta área é gay, embora na moda 86–60-86 seja mais fácil. Juntamos a este segmento o estereotipo de que incentivamos a obesidade e os homens retraem-se mais: as mulheres são mais guerreiras!

Há varias marcas plus size para homem que procuram estes modelos. Por isso, há necessidade!

Como surgiu o evento ‘Plus Fashion’?

Eu e mais 9 mulheres achámos que algo tinha de mudar!

Já há 8 anos que este segmento se faz notar em Portugal – a Maria Inês Peixoto é a modelo mais representativa, lançada pelo desfile da La Redoute de 2011.

Só que algo acontece, e depois a coisa vai esmorecendo. Existem poucas marcas nacionais e não há união na moda plus size portuguesa.

Então aqui a maluca!, que sou eu! (risos), disse: é agora. Quero-vos a vocês: vamos formar uma associação! A APSIZE – Associação Plus Size.

Qual era o principal objetivo?

Mais do que promover a moda plus size (principal objectivo da associação), era trazer mais sinergias da Europa e da América para criar mais interesse nos nossos estilistas. Falámos com escolas de moda para incentivar os alunos também. É difícil porque eles são parametrizados para desenhar só “aquilo”. Nós vimos pedir-lhes que saiam fora da caixa!

A organização do evento conta com mais uma equipa. A Beatriz Patachão não é deste mundo – é uma stylist ligada ao mundo 86–60-86. Já esteve nos bastidores dos eventos principais de moda e essa realidade é importantíssima. Queremos trazer o profissionalismo desses eventos para o Plus Fashion. E está a correr melhor do que achávamos!

Eu sou o tipo de empreendedora que sabe que o não é sempre garantido e não tenho medo de perguntar.

Como sou seguidora da moda brasileira, percebi o ano passado pelas redes sociais que estava a ser produzido o programa Beleza GG e pedi às participantes que me fossem mandado episódios e excertos.

Este programa segue a vida de 3 modelos plus size: a Denise Gimenez, Fluvia Lacerda e a Mayara Russi. Em reunião com a Beatriz decidimos que tínhamos de convidar alguém e lembrámo-nos dela.

E perguntar deu resultado porque a Mayara aceitou!

Sim! Com a proactividade que existe no Brasil, no dia a seguir já tinha o contacto do agente dela! Mandámos um email a explicar tudo da associação e do evento e, outra vez, no dia seguinte já estávamos em contacto com a produção do Beleza GG.

Ficámos em pânico: it’s getting real! Eles disseram que queriam vir acompanhar a Mayara a Portugal, ao nosso evento! “Não acredito, isto não está a acontecer!”.

A Maria Inês, não menos importante, também vai ser nossa embaixadora e sempre foi um exemplo para mim. Ela é o ícone da moda plus size em Portugal!

E pronto! O Plus Size é só o primeiro evento da APSIZE: primeiro de muitos que esperamos que venham em cadeia porque a ideia é não deixar desaparecer o bichinho do segmento.

O que é vamos poder encontrar neste evento?

O evento decorrer nos dias 18 e 19 de Maio (sábado e domingo) das 14h às 20h no Palácio Baldaya em Benfica.

E terá expositores, um showcase de todo o tipo de moda: não queremos um evento unicamente plus sizee isso é importante referir! Queremos inclusão do nosso segmento na moda em geral! Incluir vários tipos de corpo, obviamente mantendo critérios, não queremos obesidade mórbida em cima das passerelles! Do mesmo designer, teremos 2 coordenados semelhantes para diferentes fisionomias.

Vamos ter uma palestra com interacção com o público: dadas pelas embaixadoras, por modelos e até uma advogada. Vão falar sobre a experiência delas, quais foram os preconceitos e como foram aceites!

Vamos ter desfiles, um desfile com uma surpresa. A programação está aqui.

A única coisa paga é a palestra – 10€ – e a inscrição faz-se através do email geral@plusfashion.pt .

Como surgiu a vontade de associar uma vertente social ao evento?

O ano passado, no aniversário da nossa agência, conheci uma colaboradora da DFS que me apresentou o projecto e explicou a necessidade que também sentiam em ter mais conjuntos plus size. As estatísticas confirmam que é na classe média baixa que há mais obesidade, o que vem corroborar esta necessidade.

Quando surgiu o evento, então fez todo o sentido convidar-vos. Este ano, só a vocês!

Os fins da Dress são muito nobres! As mulheres que têm a auto estima em baixo muitas vezes não conseguem arranjar trabalho e depois a vida pessoal também não flui. É perigoso. Faz todo o sentido cada vez mais todos nos entreajudarmos.

É urgente quebrar preconceitos em Portugal relacionados com a Moda Plus Size? Que preconceitos?

Sim! É o preconceito da obesidade! Que o gordo não tem saúde.

Então e o magro?! Só o in between é que é saudável? Então deixem de pôr modelos magras nos desfiles!
É urgente quebrar esse preconceito com o mesmo cuidado que se tem relativamente à anorexia, por exemplo.
Temos de ter cuidado com a nossa saúde: sejamos gordos ou magros. Os modelos plus size também comem bem e fazem exercício.

Li um livro que me recordou a altura em que as pin-up eram o centro da sociedade, só depois é que demos uma volta e agora a magreza é lei.

As modelos da Victoria Secret que são fantásticas, eu pergunto: aquilo é um exemplo para mim? Para mim não!

Eu aceito-me bem como estou mas provavelmente para muitas jovens não é fácil. Já ouvi miúdas de 8 anos a dizer que não podem comer porque estão gordas! Miúdas que estão no índice saudável da idade delas. É preocupante! Porque são estereótipos que vêm da sociedade.

Claro que tem de haver um controlo por parte da família: se comem bem e fazem exercício.

Tal como em adultos! Não nos podemos desleixar.
Todas as pessoas têm problemas de auto estima, sejam gordas ou magras. Eu tenho amigas da moda 86–60-86 com preconceitos!

Voltamos à questão de incluir a moda plus size nos parâmetros ditos normais. Quando era pequena e ia às compras com as minhas amigas, não conseguia comprar nada para o meu tamanho. Era uma sensação de impotência de não haver também para mim. Há miúdas que criam problemas de saúde alimentar por causa destas coisas.

É preciso que haja cada vez mais pessoas a produzir este segmento e com uma visão cada vez mais jovem. Acompanhar tendências!

A nossa associação vai lutar para que deixe de haver uma secção plus size separada. Isto sim é um preconceito por parte das marcas! A marca está a promover esta separação na sociedade. Porque é que eu tenho de estar num sítio diferente com pessoas diferentes!? É constrangedor.

Enquanto há mulheres que vão às compras para levantar a auto estima, o nosso segmento: esquece! E repara que os departamentos de homens, quase não têm esta separação…

E de mulher para mulher, que mensagem gostaria de deixar?

Valorizem cada vez mais o interior! O exterior é meramente estético. Quanto mais valorizamos o exterior – seja qual for o nosso corpo – mais preconceito causamos.

A sociedade deixou de valorizar o interior e deixámos de comunicar…

Isto que nós estamos a fazer agora, nós estamos a conhecer-nos. Se fosse por email, não te tinha dito metade do que disse. Tu não ias conhecer um bocado do meu interior e da minha essência. Isto é que falta na sociedade!

Quando estás bem no interior, o exterior compõe-se. E vice versa.

Francisca Pedra Soares, para a Dress For Success

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