Nuno Costa, Personal Trainer de Profissão, fala-nos de como o exercício físico é um dos melhores aliados do bem-estar psicológico, especialmente em tempos de pandemia.
Porquê uma carreira virada para o desporto e o que é que o exercício físico significa para ti, qual o espaço que o mesmo ocupa na tua vida?
É engraçado, nunca me tinham feito esta pergunta desta maneira. Eu sempre fui ligado ao desporto na minha adolescência e gostava de praticar desporto só com os meus amigos; ainda joguei futebol federado mas depois parei um bocadinho até entrar na Universidade. Quando realmente entrei na Universidade, haviam aqueles congressos de Fitness e lá decidimos ir, eu a uma meia dúzia de colegas meus. Foi nessa altura que dei conta que tinha muito jeito para a aeróbica — fiz as aulas todas: aeróbica, step, pop… e vim de lá maravilhado. Entretanto, à saída vi uns panfletos de um curso de Personal Training e de International Fitness e pensei “Olha, quero fazer isto!” — vinha mesmo deslumbrado com aquilo. Acabei por fazer o curso de Instrutor Fitness Internacional aliado à minha formação de Desporto e foi aí que comecei a dar aulas de grupo e a monitorizar a musculação. Entretanto fiz um outro curso de Personal Training e passei por vários ginásios, inclusive pelo Holmes Place — a escola deles é muito boa.
E foi assim que dei conta que, realmente além de gostar muito de treinar, eu gostava muito de estar com pessoas e de ajudar estas pessoas; as pessoas saíam tanto das minhas aulas como dos meus trinos a dizerem “Ainda bem que vim! Estou super melhor” — e não era só aquele bem- estar estético, sabes? Era aquele bem-estar físico que se traduz num bem-estar psicológico. E é isto que nos motiva, penso que a mim e a muitos colegas a continuar… sentes que fazes diferença na vida das pessoas. É o que eu costumo dizer aos meus alunos: nós estarmos bem não é só termos os abdominais definidos, é subir um lance de escadas e não termos de parar 5 minutos antes de tirarmos as chaves do bolso porque não conseguimos respirar, por exemplo. Estar bem fisicamente é fazer as rotinas do dia-a-dia facilmente, essa é a parte chave. E o exercício para mim é isto, é o bem-estar físico e o facto de ele trazer qualidade de vida às pessoas.
Como é que explicas o grande shift mental na nossa sociedade em relação ao estilo de vida saudável? Na tua opinião, porquê que as pessoas valorizam tanto esse estilo de vida agora? Será só uma motivação física ou também psicológica?
O grande boom dos ginásios foi nos anos 80 com a Elle Macpherson e a Jane Fonda, por exemplo — e realmente as pessoas já começaram a praticar desporto nessa altura. Hoje em dia, penso que é tudo mais facilitado pelas redes sociais. Todas as publicidades que passam sobre os produtos saudáveis, corpos saudáveis, corpos de praia, etc. e tudo o que é “injectado” nas nossas vidas, é em torno de um estilo de vida saudável… e desde logo, os miúdos são bombardeados com todos estes conceitos que nas décadas anteriores não existia ou não era acessível. Além da preocupação com a saúde — e ainda bem que a há — eu penso que está muito relacionado com isto, com o facto de sermos bombardeados nas redes sociais com todas estas coisas.
Achas que essa busca por um estilo de vida saudável, influenciado pelas redes sociais ou não, é sazonal e mais evidente num género que noutro?
Já não há tanto essa diferença de género como existia antes; antes havia muito o estigma do homem praticar ginástica e a fazer aulas de grupo, por exemplo… era mais associado às mulheres que gostam de conversar e sair da rotina; e era muito sazonal também. Mas nos últimos anos as pessoas têm mantido a prática do desporto ao longo do ano… eu por exemplo tenho os meus alunos fixos — Verão e Inverno — há anos. Claro que a chegada do Verão dá mais vontade para fazer exercício físico, mas nota-se que as pessoas preocupam-se em manter a atividade física no Inverno também e lá está, mais uma vez, porque o acesso ao exercício físico está muito mais facilitado, quer seja por estas novas ferramentas que facilitam os treinos online como pelos treinos que são publicados nas diversas plataformas.
E, por exemplo, as mulheres a que a DFS se dirige, como é que podem adotar um estilo de vida saudável, apesar de o exercício físico já estar democratizado e acessível à maioria das pessoas através da Internet?
Além de na Internet já encontrarem muitas coisas — eu, inclusive, tenho cerca de 50 vídeos que partilhei no meu Instagram no 1o confinamento — acho que é mesmo uma questão de definir prioridades. Uma mulher, por exemplo, numa situação mais vulnerável e que queira aumentar a sua auto-estima, encontrar um emprego ou até encontrar-se a si, tem de arranjar um foco forte e planificar e, acima de tudo, ser fiel a esse foco e a essa planificação. A parte alimentar é muito mais difícil de se seguir, mas com foco e planificação é possível. Aliado a isso, basta definir dias e horários para os treinos e pensar “Nestes três dias, a esta hora, vou parar, vou pesquisar treinos na Internet e vou fazê-los.”. Além dos resultados, o próprio foco — a pessoa começar a focar-se em si, naquilo que quer fazer e nas suas prioridades — vai ajudar imenso e ao focar-se, essa pessoa está a valorizar-se a si mesma e isto vai criando mudanças ao nível psicológico. Na primeira semana podemos não notar, mas se calhar no final de um mês já vemos as diferenças… no final de três meses já criámos hábitos, tanto alimentares como de treino.
Por falar em foco, como é que vocês, profissionais desta área, estão a lidar com toda esta situação pandémica uma vez que os ginásios encontram-se encerrados ao público?
Eu não estou aliado a nenhum ginásio; tenho o meu projeto próprio desde 2012, logo a minha atividade não foi afetada… mas agora dou muitos treinos em casa, com o telemóvel à frente — como os meus alunos já treinam comigo há muito tempo, é fácil perceberem aquilo que estou a explicar além de que eu exemplifico os exercícios também. Eu nunca me tinha lembrado disto (dos vídeos online) antes; dava treinos em espaços públicos ou em casa das pessoas. Mas com o confinamento e com a proibição de circulação, uma aluna sugeriu-me fazer treinos online e agora não existem desculpas para não treinar. Isto foi adotado também por muitos colegas meus, inclusive aqueles que trabalham em ginásios.
Pode-se dizer então que surgiu uma nova oportunidade de negócio para ti. Achas que será esse o futuro? O treino mais personalizado e privado sem o recurso tão frequente aos ginásios?
Espero bem que não mas acho que será, inevitavelmente, o futuro.
Eu sou muito cinestésico e gosto muito de estar com pessoas… preciso muito da energia física, acho que como a maioria das pessoas. E até acho que muitas das pessoas que treinam, fazem- no exatamente por precisarem de estar com alguém e de sair da rotina diária. Portanto, espero que não exista esta falha no contacto pessoal que é muito proporcionada pelo exercício físico.
Achas que com a pandemia e com este novo confinamento, as pessoas continuam a fazer desporto com a mesma regularidade e intensidade?
Eu penso que fez precisamente o contrário; como as pessoas estão confinadas em casa e são podem sair para fazer exercício físico… tenho muitos amigos que antes não faziam nada e agora com a pandemia até começaram a correr. Nota-se isto também pelas lojas de equipamentos que esgotaram completamente o seu stock no país todo. Acho que as pessoas continuaram a fazer exercício e quem não fazia, começou a fazer — eu, por exemplo, comecei a ser muito contactado através do Instagram por pessoas que não treinavam e que queriam saber como fazê-lo.
Notas então que, apesar de apesar de existir cada vez mais informação na Internet, ainda existe muita procura de guidance e experiência dos profissionais de exercício?
Sim e ainda bem. Confesso que vi muito aproveitamento por parte de pessoas que não têm formação específica na área e sem saberem aconselhar as pessoas. Espero que as pessoas procurem o devido acompanhamento ou, pelo menos, procurem saber se aquilo que estão a fazer é correto e apropriado para a sua condição física.
Atendendo a toda esta conjuntura atual e à importância do exercício físico, qual é o conselho que dás às pessoas em geral e às mulheres e leitoras do blog da DFS, em especial?
O exercício físico é algo que nos faz muito bem psicologicamente e que nos prepara para o dia- a-dia… este é um momento mau e é um momento mau para todos e quem está mais preparado, consegue reagir mais rápido. Alimentem-se bem, façam o vosso exercício físico, preparem-se psicologicamente e sejam fortes. Alguma coisa há-de surgir… as coisas boas surgem quando nós estamos lá em baixo e não quando estamos lá em cima; e quando surgirem essas coisas boas, temos de as agarrar. É estar preparado… 70% ou 80% do nosso bem-estar emocional passa pelo exercício físico portanto, o meu conselho, é procurarem alguma coisa que gostem de fazer seja correr, caminhar, dançar, qualquer coisa… mas façam.
Entrevista realizada por Ana Gonçalves em Janeiro de 2021