Quando fazemos uma pesquisa em qualquer motor de busca pela web com os termos “epidemia do século XXI”, os resultados não podiam ser mais variados. Seria o pânico de qualquer hipocondríaco. Diabetes, obesidade, Alzheimer… Todas elas apresentam grandes desafios à comunidade médica na actualidade. Mas haverá alguma já experienciada por mim? Pela minha vizinha do andar de baixo? Pelo meu patrão? Pelo meu filho que iniciou agora o ano lectivo? A resposta é muito simples. Todos nós em alguma situação das nossas vidas já experienciámos aquele “nervoso miudinho”, “aquele friozinho na barriga”… Falo-vos de ansiedade.
De facto, o século XXI está dado a estas coisas. Todos nós sofremos imensa pressão para sermos melhores pessoas, bons filhos, excelentes maridos/esposas, funcionários competentes e empregadores respeitados. A busca por um bom desempenho em qualquer destas funções, profissionais ou familiares, poderá fazer com que desenvolvamos um distúrbio da ansiedade nas suas variadíssimas apresentações (distúrbio de ansiedade generalizado, distúrbio de stress pós-traumático, distúrbio de pânico).
Apesar de a ansiedade parecer prender-se apenas com questões psicológicas, a realidade não poderia estar mais longe e, de facto, está mais que provado que o sistema cardiovascular é grandemente afectado por todos estes distúrbios. Podemos pensar que a ansiedade afecta apenas a forma como interagimos com o mundo através do nosso comportamento. Pessoas mais ansiosas têm tendência a cumprir dietas menos saudáveis, a praticar menos actividade física e até a aderir a estilos de vida menos saudáveis como é exemplo o consumo de tabaco. Além disto o nosso corpo também sofre algumas alterações a nível celular e molecular que podem encontrar-se directamente relacionadas com estados ansiosos. Surge disfunção autonómica (o sistema nervoso autónomo é aquele que executa funções essenciais e que acontecem sem a nossa ordem, tal como respirar ou permitir que o nosso coração bata “sozinho”) surgindo arritmias cardíacas e a percepção exagerada do batimento cardíaco (palpitações), o corpo pode libertar parâmetros inflamatórios em excesso, pode surgir disfunção plaquetária (as plaquetas são as células do sangue que intervêm nos processos de coagulação) e até disfunção endotelial (células constituintes das paredes dos vasos sanguíneos). A conjunção destas alterações comportamentais e fisiológicas precipita então muitas vezes a ocorrência de um grande número de eventos cardiovasculares que afectam a morbilidade e até a mortalidade.
Felizmente temos ao nosso alcance diversas maneiras de combater a ansiedade. A melhor forma será actuar em simultâneo sobre as vertentes psicológica e fisiológica através de psicoterapia junto de técnicos especializados e procurar ajuda médica afim de tentar abordar o problema através de terapêutica farmacológica adequada à situação e se estritamente necessária. Primordialmente será essencial que adoptemos estilos de vida saudáveis em termos dietéticos (boa hidratação, evicção de sal), através da prática regular de actividade física adaptada à nossa pessoa e evitar consumos nocivos (ingestão de álcool e consumo de tabaco).
Pedro Domingues, Médico de Família