«Vai lá mostrar à avó, pergunta se estás bonita!» Estas eram as palavras de «ordem» da minha mãe… e eu corria para a minha avó:
– Avó, estou pronta, estou bonita?
– Deixa-me ver, dizia ela… vai até ali à frente e volta para eu ver melhor!
Olhava, olhava … desmanchava o meu laço do vestido, e ao dar um novo laço dizia …
– A tua mãe não sabe dar laços, mas não lhe digas para ela não ficar triste!
– Pronto, já está, estás muito bonita, vai lá.
Era este o ritual, e foi assim até aos meus 23 anos, até ao momento de eu sair de casa.
“Temos que sair à rua sempre no nosso melhor, pois não sabemos quem vamos encontrar!”
São vários os factores que contribuem para o nosso crescimento e construção e grande parte do que somos em adultos está relacionado com a nossa infância. Todos temos pessoas, ditas de referência, que nos influenciaram, positiva ou negativamente, em áreas diferentes da nossa vida.
Na Dress For Success temos uma abordagem especial do poder da imagem e da importância de nos cuidarmos como factor de empoderamento. No meu caso, tenho plena consciência de que quem me inspirou e determinou a minha atitude, comportamento e cuidado que tenho com a minha imagem, foi a minha Avó Rosa.
Linda, digna de um filme, olhos verdes (com pena ninguém da família os herdou), cabelo com ondas, apanhado sempre, pequenina, esguia, sempre de avental, chinelo, saia. Dizia frases como:
“Vaidade não é pecado!”
“Podemos ser pobres, mas não podemos andar rotos!”
“Temos que sair à rua sempre no nosso melhor, pois não sabemos quem vamos encontrar!”
“Temos que andar sempre limpos e arranjados, pois podemos ter que ir para o hospital numa urgência e é uma vergonha!”
Todas estas frases me ficaram na memória e até hoje são uma inspiração, em momentos menos bons, em que não me apetece tanto cuidar de mim, penso nestas palavras e vejo a minha avó, ali como exemplo.
Tive o privilégio de passar muito tempo com a Avó Rosa, trabalhava no campo, nas terras de um Senhor Doutor, tinha uma roupa de andar na rua e outra para trabalhar. Eu, atenta, presenciava tudo: saía sempre toda bonita, o avental da rua tinha um tecido melhor e folhinhos, os chinelos um pouco de salto, e o cabelo com rede no apanhado.
O percurso era curto, chegávamos à Quinta, trocava de roupa, de calçado e tirava a rede do cabelo, deixava-me na casa com a “Senhora” e só voltava passado umas horas.
Quando a ouvia chamar por mim, pegava nas minhas coisas e descia, sentava-me num banquinho à espera.
Pela porta entreaberta admirava-a, a olhar-se por um espelho pequenino, já partido, pendurado na parede, molhava as mãos e passava-as pelo cabelo, com um pente moldava-o para prender com a rede, como dizia a avó, “ficava logo com melhor aspecto”. Daquela porta saía, com ar cansado, de pele queimada pelo sol, coradinha, bonita, dava-me a mão – Portaste-te bem com a “Senhora”? – questionava, e conversávamos a caminho de casa, enquanto desfilávamos pela rua, direitas, bem apresentadas, seguras e orgulhosas de nós próprias.
Sempre que penso na minha avó vejo-a no seu melhor, sempre cuidou dela, cuidava do cabelo como ninguém, fazia uma pasta caseira (agora entendo que era para hidratar), nunca foi ao cabeleireiro, mas tinha um cabelo lindo. O calçado sempre bem limpo e com graxa, o sobretudo, foi o mesmo de sempre, de boa qualidade (acho que ainda está guardado), como dizia – “não é preciso ter muito mas algumas peças têm que ser boas para durarem uma vida”!
A Avó Rosa, foi, e será sempre, uma referência para mim, pelo exemplo e por tudo o que me transmitiu.
Ensinou-me a gostar de mim e que teria que ser sempre eu a cuidar de mim. Ensinou-me que, independentemente do nosso estado emocional, teríamos que estar sempre no nosso melhor, pois ajudava a ficarmos bem. Ensinou-me que não podia permitir que ninguém me inferiorizasse e tentasse influenciar a minha imagem. Ensinou-me que devemos vestir o que nos fica bem e nos faz sentir maravilhosas. Ensinou-me que a imagem não era tudo mas acompanhado pelo nosso brilho no olhar e o nosso sorriso podemos conquistar o mundo. Ensinou-me que não são precisas roupas caras ou de determinada marca para estarmos bem, basta escolher as roupas certas pois “qualquer trapinho nos fica bem” se estivermos felizes!
Devo uma grande parte do meu amor próprio e autoestima à minha Avó Rosa, mas sabem, nunca lhe disse, ficam tantas coisas por dizer…
E vocês? Já fizeram esta reflexão? Que influências tiveram na vossa infância na questão da imagem e do poder da mesma?
Presentemente, que exemplo querem transmitir e que influência ter em quem vos rodeia?
A imagem não é tudo, não, mas é certo que tem um poder e impacto muito grande para os outros, mas principalmente para nós e no que queremos conquistar!
O presente é AGORA e o futuro é HOJE!
Atreve-te!
Sandra Oliveira
Economista / Coach
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