Sofia Moradas, nutricionista de profissão e dedicada à Saúde da Mulher, fala-nos de como a alimentação e um estilo de vida saudáveis são imprescindíveis para nos sentirmos bem na nossa pele; no fundo, um reflexo do nosso bem-estar na vida.
Olá Sofia! Fala-nos um bocadinho sobre o teu trajecto pessoal e profissional, de modo a que as nossas leitoras te possam conhecer, perceber de onde vens, o que fazes, etc.
Cresci numa família de especialistas da área da saúde e muito próxima da minha avó materna, enfermeira de profissão e com um gosto inigualável pela culinária e alimentação, área à qual dedicou o interesse central da sua vida.
Desde cedo que a acompanhei na escolha de alimentos (as famosas idas à praça) e na confecção de receitas dos quatro cantos do mundo; isso desenvolveu, em mim, um interesse por conhecer outras culturas e as suas tradições culinárias, respetivamente. Aos 12 anos, através de amigos da família, surge o interesse pela dietética macrobiótica que estudei por uns livros que me ofereceram e que guardo até hoje. Mais tarde, optei pela alimentação vegetariana e também estudei muito sobre isso; a alimentação saudável sempre foi um fator essencial do meu estilo de vida.
Vivemos numa sociedade cada vez mais preocupada com questões nutricionais e com o aspecto físico; qual a principal razão, na tua opinião, para este shift mental?
No que respeita à preocupação com a alimentação saudável, penso que se deve ao facto de se ter assistido ao crescimento da investigação na área da ciência da nutrição e de se saber hoje muito mais do que sabíamos há 20 anos atrás, sendo agora clara a relação entre a alimentação e o desenvolvimento de doenças como as doenças auto-imunes, neuro-degenerativas, obesidade ou diabetes tipo 2.
A preocupação com o aspeto físico surge também por causa do padrão social que foi criado, embora isto não seja sempre sinónimo de saúde pois no emagrecimento ou manutenção do peso ideal, nem sempre assistimos a um investimento na saúde por parte das pessoas que encetam estas práticas. Muitas pessoas buscam as famosas soluções milagrosas pois não querem mudar o estilo de vida.
A preocupação com as questões nutricionais está mais associadaa a um género, nomeadamente o feminino. Verdade ou mito?
Na minha prática é um mito, não vejo essa diferença.
Um dos grandes desafios de uma dieta equilibrada e saudável passa pela sua manutenção no tempo. Qual é o teu grande segredo ou dica, neste sentido?
O grande segredo é o estilo de vida e não a dieta. Tudo precisa de ser equilibrado na vida; o sono, o exercício, a gestão do stress, a alimentação, a sua individualidade… são muitos factores. Dietas muito restritivas levam a danos graves na saúde. Achamos, muitas vezes, que a dieta da amiga serve para nós e não serve; somos únicas, temos de aprender a conhecer-nos e a saber o que é bom para nós. Só isto será sustentável no tempo.
São cada vez mais proliferantes as marcas e os produtos biológicos. Serão estes, também, extremamente necessários a uma dieta rica e saudável?
Os produtos biológicos apresentam uma percentagem significativamente menor de químicos que são nocivos para a nossa saúde, mas nem sempre o biológico é saudável. Vou dar um exemplo, existe açúcar biológico, mas açúcar não é saudável. Penso que existem outras coisas importantes como consumir produtos de origem local e menos massificados, escolher produtos naturais e não “em pacote” – tudo o que não vem na sua forma natural sofre um processamento que vai retirar qualidades ao alimento.
Quais os grandes benefícios em manter uma dieta saudável e quais são, a teu ver, as principais práticas que devemos encetar e manter no nosso dia-a-dia?
Gosto de falar em estilo de vida e não em dieta, dieta é apenas a componente alimentar. Um estilo de vida feito de boas práticas e emocionalmente positivo traz saúde. O grande benefício de sermos saudáveis é podermos viver bem por mais tempo, garantir a nossa aptidão física e mental, viver todo o potencial da nossa mente, realizar uma vida plena e consciente, contribuindo assim para a evolução da humanidade.
Qual o conselho que queres deixar às mulheres, em especial às beneficiárias da DFS, no que respeita à valorização do corpo e à auto-estima física e psíquica?
O corpo é um veículo que nos permite realizar muitas coisas positivas mas para isso é preciso que esse corpo seja saudável e que nele habite uma mente também saudável.
Um estilo de vida sem excessos, como uma alimentação equilibrada, sono adequado e a prática de atividade física regular, são os pilares para a construção da auto-estima, da motivação para o dia-a-dia.
Devemos procurar realizar o nosso propósito a cada dia, construindo um caminho do qual nos orgulhamos e pelo qual somos gratas. Isto exige disciplina; e disciplina não é sacrifício nem força de vontade, é resiliência. Ao fazermos escolhas devemos questionar qual a a escolha que nos aproxima mais do nosso propósito e seguir por esse caminho, mesmo quando as distrações são mais interessantes.
Entrevista realizada por Ana Gonçalves em Julho de 2021