Falar sobre vinhos é como falar sobre uma obra de arte: há tanto para dizer, mas é um pouco subjectivo. Ocorreu-me, então, contar-vos duas histórias de sucesso de mulheres lutadoras, num mundo de homens.
No século XIX, viveu no Douro uma mulher que, tendo casado demasiado cedo com um primo que mal conhecia, herdou a fortuna da família, que já então se dedicava aos vinhos. O marido tinha poucos interesses, convenhamos, pelo que Dona Antónia Adelaide Ferreira, que ficou conhecida como a Ferreirinha, tratou de arregaçar as mangas e lançar-se de cabeça neste universo. Podem imaginar que não foi uma história fácil. Pouca ajuda teve, num país em que importar vinhos espanhóis saía mais barato.
A Ferreirinha enviuvou cedo, ficou com dois filhos e um negócio à sua responsabilidade, mas não teve medo. Passou por muitas dificuldades mas foi conseguindo ultrapassar todas com ajudas vindas de fora. E o seu legado ainda hoje permanece, atualmente sob a gestão da Sogrape Vinhos, que gere diversas marcas.
Da marca Casa Ferreirinha aconselho dois vinhos de castas bem portuguesas: o ‘Papa Figos’ um tinto que acompanha bem carnes vermelhas e queijos; e claro o ‘Planalto’, um branco seco que combina bem com peixes, carnes brancas, saladas e alguns queijos não muito gordos.
Já da Casa Ferreira não poderia deixar de recomendar um ‘Porto Tawny Dona Antónia Reserva’, que remata de forma muito especial qualquer refeição festiva, polvilhada de frutos secos. Os vinhos do Porto ficam melhores com a idade e este Dona Antónia pode encontrar-se com 10 ou 20 anos. Claro que a idade aumenta o preço!
Descemos agora à região de Palmela para conhecer mais de perto a casa Ermelinda Freitas e o negócio que foi desde o início gerido no feminino. Deonilde fundou a empresa no início do século XX e esta passou para as mãos de Germana que, sem saber ler nem escrever, preparou o negócio para passar um dia para a gestão da sua filha Ermelinda. Esta geriu a empresa o melhor com pôde com a ajuda do pai. Mas por morte deste, sentiu que tinha apenas duas hipóteses na mesa: ou vendia o negócio, ou a sua filha Leonor tinha de ser a próxima a assumir as rédeas da empresa. Como Leonor aceitou o desafio, regressou a Palmela, onde gere actualmente a Casa Ermelinda Freitas, que tem crescido e prosperado dentro do sector.
Desta casa recomendo o ‘Mimosa’, um tinto de aroma intenso que acompanha bem as carnes vermelhas e os queijos gordos. Já na gama dos brancos, sugiro o ‘Dona Ermelinda’, que combina bem com carnes brancas ou peixes, massas e algum tipo de saladas. Estes são vinhos mais estruturados e de aroma intenso, como é característico dos vinhos da região de Palmela.
Remato com um ‘Moscatel de Setúbal’ que acompanha na perfeição todo o tipo de doces, mas que pode ser servido também como aperitivo.
Recomendações: os vinhos tintos recomendados neste artigo, bem como o Porto, devem ser consumidos à temperatura ambiente; os brancos podem ser consumidos frescos; o Moscatel deve ser bebido muito fresco, preferencialmente com uma pedra de gelo.
Filomena Gonçalves
Blogger, a construir um sonho de cada vez
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Imagem 1: https://www.geni.com/people/Dona-Ant%C3%B3nia-Adelaide-Ferreira-a-Ferreirinha/6000000017153287811
Imagem 2: https://grandesescolhas.com/leonor-freitas-e-mulher-empresaria-2018/